sexta-feira, 4 de novembro de 2016

OBESIDADE

Questão de peso
A maioria dos tratamentos indica uma reeducação alimentar. No entanto, a pessoa que sofre de obesidade utiliza-se do alimento para alívio de um intenso estado de angústia

Por Clarissa Silbiger Ollitta


Obesidade está na moda! Está na moda cobrar da pessoa obesa que ela emagreça! Está na moda publicar pesquisas de índices de obesidade alarmantes. Está na moda postar fotos de corpos flácidos emagrecidos. Está na moda abrir empresas com promessas salvadoras do suplício da obesidade. Moda, também, é demonizar os obesos. Moda é a promessa da juventude eterna associada à magreza. É ganhar fama pela descoberta de uma nova fórmula emagrecedora e, ainda, divulgar depoimentos de terapêuticas revolucionárias. Moda, por fim, é ter um blog contando o vitorioso processo de emagrecimento saudável.
Está nascendo, também, uma nova moda, filha da primeira. Carrega um peso considerável e embala um pesadelo numa linda fita cor de rosa: a obesidade infantil.
Vamos começar pela genitora: a obesidade nos adultos.
Há um equívoco na compreensão da obesidade. Nenhum ser humano opta deliberadamente por ser obeso

Antes de tudo, quero ressaltar que valorizo todos os estudos que aprofundam a pesquisa da obesidade, e, sem dúvida eles são uma contribuição inquestionável. São incontestáveis os prejuízos, tanto do ponto de vista da saúde individual como da saúde pública, que a obesidade acarreta. Por todas as vias somos sensibilizados e alertados para isso. Portanto, esse artigo não pretende atualizar os dados referentes ao tema.
Convido a pensar sobre a realidade da política alarmista e culpabilizadora que tem nos impactado nas últimas décadas.
Vivemos numa sociedade na qual nossa competência é determinada pelo grau de adequação a modelos comercialmente estabelecidos. Atravessados por mecanismos eletrônicos que escapam ao nosso controle e estimulam nossa exposição, nossos corpos vigiados são o cartão de visita para a entrada no mercado de imagem.

São incontestáveis os prejuízos, tanto do ponto de vista da saúde individual como da saúde pública, que a obesidade acarreta

A moral do body-building tornou-se um potente apanágio para a culpabilização da pessoa obesa pela sua própria condição, salvaguardando, assim, todo o processo de indução ao consumo por meio de mecanismos sofisticadíssimos que penetram em nossa casa, em nossas televisões, em nossos hábitos.
Impotentes, reproduzimos ideais de beleza e juventude concretamente inacessíveis, fomentando a indústria farmacêutica, as empresas alimentícias, produtos da lógica da competição globalizada.
Denunciamos as propagandas enganosas veiculadas pela mídia que gera consumo incontrolável em nosso cotidiano. Certamente, vivemos num universo ambivalente que estimula a obesidade e depois a rejeita.

No campo mental, alguns conceitos têm sido utilizados de maneira repetitiva e empobrecedora. Depressão e compulsão são diagnósticos frequentes e vazios. Há pouco investimento em entender a obesidade do ponto de vista psicossomático, ou seja, como uma legítima expressão humana da mente integrada com o corpo, gerando uma compreensão empobrecedora desse importante universo.

Há uma permanente culpabilização do paciente pela sua própria condição. Delega-se maciçamente a responsabilidade do fracasso. Os profissionais da saúde, muitas vezes frustrados, evitam confrontos que questionem sua competência

Apesar do consenso na classe de profissionais da saúde de que a pessoa é um indivíduo único e singular, a prática dos tratamentos tem sido compartimentar a pessoa obesa em especialistas que competem por orientações divergentes.
A pessoa obesa é frequentemente considerada um paciente difícil. "Rebelde", "desobediente" e "indisciplinado" são adjetivos comuns que, se não atribuídos diretamente, são veiculados entre os colegas de profissão.

A prática dos tratamentos tem sido compartimentar a pessoa obesa em especialistas que competem por orientações divergentes

 O Processo Civilizador
O sociólogo alemão Norbert Elias, em seu livro O Processo Civilizador, levanos a pensar no que aconteceria se um homem da sociedade ocidental contemporânea fosse, de repente, transportado para uma época remota, tal como o período medievo-feudal. Possivelmente descobriria nele hábitos e modos que julga selvagem ou incivilizado em sociedades da atualidade. Tais hábitos, diferentes dos seus, não condizem com a forma como foi educado, por isso os homens os abominariam. É possível que encontrasse um modo de vida muito diferente do seu, alguns hábitos e costumes lhe seriam atraentes, convenientes e aceitáveis segundo seu ponto de vista, enquanto poderia considerar outros inadequados. Estaria diante de uma sociedade que, para ele, não seria civilizada. Para esse homem, civilizados são os costumes do seu tempo, de seu povo, de sua terra.
E como dizer não?
Quem é o nosso paciente? Quem sinaliza um pedido de ajuda?
Por enquanto, nos dizem que são as pobres crianças nas mãos dos ignorantes e irresponsáveis pais. Temos pena delas, imaginamos suas desastrosas perspectivas de vida e uma revolta rancorosa começa a circunscrever os pais da criança obesa. É voz corrente serem eles que, irresponsavelmente, compram refrigerantes para os filhos, que não sabem dizer não aos salgadinhos - novamente o problema da alimentação -, que induzem a diabete porque não cozinham comidas saudáveis, que a abandonam na tutela da televisão ao sabor dos biscoitos, que são ignorantes porque não sabem de cor a tabela sujeide caloria dos alimentos e, por fim, porque não conseguem frustrar seus filhos em seus apetites vorazes.
Bem, se o adulto obeso é permanentemente cobrado pelo fracasso dos tratamentos da obesidade, agora encontramos outro algoz da obesidade infantil: os pais.
O que significa para o pai, mãe, cuidador, alimentar uma criança?
O alimento é nossa única via de sobrevivência física. Mas psíquica também. Inúmeras pesquisas comprovam que crianças alimentadas exclusivamente em berços, deprimem profundamente, quando não falecem, se não são tocadas, e acalentadas.
A criança precisa se alimentar integralmente, pelo contato, pela pele, pelo afeto, pelo alimento e o adulto precisa ser e se sentir um bom provedor. A sintonia dessa parceria é determinante para o desenvolvimento do bebê mas, também, para confirmar a competência de quem cuida dela. Claro que é um processo complexo, delicado, entre seres humanos, com suas singularidades de ambos os lados. Existem nuances, momentos de acertos, outros não, mais sintonia, distância, porém é algo muito íntimo vivido entre os pais e seus filhos.

A criança precisa se alimentar integralmente, pelo contato, pela pele, pelo afeto, pelo alimento e o adulto precisa ser e se sentir um bom provedor

A obesidade é a expressão de um paradoxo no qual, por um lado, há um acúmulo excessivo de energia e, por outro, uma inapropriada utilização dela. Ser obeso é ser grande e sentir-se frágil

Ao longo da vida, multiplicam-se as fomes, do alimento concreto às demandas de amor, dos bens materiais às exigências e junto as possibilidades e restrições de atendê-las.
Educar um filho entra nesta miríade de troca. Para Kehl (Corpos Estreitamente Vigiados), a modernidade resulta de um longo processo de disciplina e de auto-observação dos corpos. O Processo Civilizador, do sociólogo alemão Norbert Elias, é uma minuciosa investigação sobre a gênese da formação do que é hoje, para nós, o corpo civilizado normal. A socialização das crianças pequenas, desde as primeiras formações das sociedades de corte, consistia (como ainda hoje) no aprendizado de uma série de controles corporais. Aprende-se desde cedo como é que se anda no meio dos outros, como é que se come em presença de estranhos, como se controlam os impulsos corporais em público. A criação da moderna esfera privada nas sociedades liberais é indissociável da introjeção dos mecanismos de controle dos impulsos e dos afetos, na vida pública. Freud considerava o desenvolvimento de uma instância psíquica encarregada do autocontrole como um avanço da civilização. A autodisciplina afetiva e corporal é condição do engajamento dos sujeitos na ordem social, diria Foucault, para quem a submissão voluntária é o braço subjetivo do poder. O autopoliciamento permanente é o preço a ser pago pela vida moderna, sobretudo nas cidades.
A obesidade infantil pode ser entendida como um sintoma dessa complexa trama. Algo que não vai bem e precisa ser visto. É mais um sintoma que penetra em nossa casa.
Se quisermos compreender como uma criança obesa se sente no mundo, podemos começar pela compreensão do adulto obeso. A queixa mais frequente é que desde a infância ele deixou de ter uma identidade, uma história singular, um caminho próprio, para se tornar um diagnóstico: obesidade. O mundo o marcou, tatuou pela inadequação. Desde os espaços públicos que o expulsam, até as roupas que o ignoram. Com a criança obesa acontece o mesmo: a palavra criança desapareceu. Ela virou uma entidade: obesa. O mundo a reconhece, identifica e se relaciona com a sua forma considerada disforme. Quem quer ser amigo de um disforme? De um glutão? O imaginário social entende que a criança obesa é potencialmente um "ladrão" porque come mais, pega mais, quer mais, anseia mais. Claro que ela deseja se esconder. Mas como esconder o corpo que todo mundo vê? Sujeitando-se à humilhação diária.
Se cada um de nós se desenvolve psiquicamente a partir do olhar do outro, virar uma entidade exclusivamente obesa é ser o quê?! Alguém sem espaço de legitimidade, ocupando um enorme espaço, ou melhor, usurpando um espaço que não lhe é de direito. Que desastre!

Se quisermos compreender como uma criança obesa se sente no mundo, podemos começar pela compreensão do adulto obeso

Ser uma criança obesa é estar submersa dentro de uma ambiguidade, na qual a criança, por mais que coma, sente-se incapaz de enfrentar o mundo, sua pressão, suas exigências
Pódio social
Para uma criança, ter um tênis de marca é tão importante quanto tomar um suquinho de caixinha no recreio da escola. Numa realidade onde a felicidade é medida pelo poder de consumo, ser pai é querer dar tudo considerado bom e melhor para seus filhos. O pódio social, que atravessa nosso cotidiano, determina as posições de acordo com seu poder de compra. Nenhum pai quer intencionalmente colocar seu filho numa situação de exclusão. O alimento há muito deixou de ser uma via exclusiva de sobrevivência, é moeda de inclusão social. Seríamos ingênuos ao pensá-lo no sentido estritamente nutricional. Além disso, o alimento está sujeito às leis da livre concorrência, ou seja, um pé de alface custa o triplo de um pacote de biscoito doce. Dar um biscoito para um filho quando todas as crianças comem biscoito é viabilizar uma condição de igualdade, muitas vezes, até compensatória da limitações vividas na sua própria vida, quando não foi duramente marcada pela pobreza passada. É por isso que as orientações médicas ou nutricionais desvinculadas dessa compreensão mais ampla soam ingênuas e ineficazes.
Mesmo assim, os pais passam a ser diretamente responsabilizados pela condição de sofrimento de seus filhos. Mas culpabilizando-os conseguimos ajudá-los? Que pais querem ter os seus filhos obesos, discriminados, doentes?! Que pai opta deliberadamente por um futuro sombrio para seus filhos?! Conviver com um obeso indisciplinado já é "insuportável". Quem pode aceitar pais "estragando" a saúde dos filhos? Condenados a viver na encruzilhada da fome afetiva do filho e na acusação irrevogável das autoridades, produzimos prisioneiros da perplexidade. A fome de reconhecimento, de legitimação, de competência carimba a família da criança obesa. Desamparo e abandono geram indivíduos famintos e carentes. E comer é uma maneira de saciar-se, nem que seja temporariamente.

Dar um biscoito para um filho quando todas as crianças comem biscoito é viabilizar uma condição de igualdade

Como pedir para os pais que restrinjam os alimentos de seus filhos, se eles próprios têm fome? Fome de ser competente, fome de ser validado, fome de ser bom provedor.
A discriminação de uma criança obesa e a cobrança sobre os pais gera tal angústia, que rejeitar ou regular um alimento só aumenta o circuito de impotência familiar.
O aumento da obesidade e da obesidade infantil chama a nossa atenção para a ineficácia dos tratamentos. A obesidade diminuiu? Os tratamentos estão mais bem sucedidos? Obtemos resultados mais estáveis? Nossos pacientes estão mais satisfeitos e saudáveis? O ambiente considerado obesogênico está melhor controlado?
Tratamentos vãos
O fracasso reiterado dos tratamentos exige uma reflexão. Há uma permanente culpabilização do paciente pela sua própria condição. Delega-se maciçamente a responsabilidade do fracasso. Os profissionais da saúde, muitas vezes frustrados, ou exauridos diante do desafio da obesidade, acabam se preservando, evitando confrontos que questionem sua competência por meio de mecanismos de delegação maciça. Alimentados por uma mídia que valoriza seu saber exacerbam a onipotência do suposto conhecimento científico. O sofrimento psíquico é excluído da trama, a abordagem focada no organismo cria a ilusão de um caminho com resultados garantidos, desconsiderando a pessoa, seus desejos, suas escolhas, suas determinações inconscientes. Fica, assim, inconcebível pensar a vida como um percurso dinâmico com movimentos diversos, oscilações, dúvidas, acertos, equívocos.

Somos determinados por um inconsciente que escapa à nossa compreensão e ao nosso domínio

 Corpos vigiados
Maria Rita Kehl, psicanalista e escritora, autora de Ressentimento (Casa do Psicólogo), Videologias (BoiTempo; em parceria com Eugênio Bucci), entre outros, é ensaísta, crítica literária, poetisa e cronista brasileira. Em seu ensaio Corpos Estreitamente Vigiados, afirma que o chamado amor próprio depende da visibilidade. Para ela, não se trata apenas da beleza. Não basta ter um rosto harmonioso, um corpo bem proporcionado. É preciso aumentar a taxa de visibilidade, ocupar muito espaço no mundo. "É preciso fazer a imagem crescer. Inflar os bíceps, as nádegas, os peitos, aumentar as bochechas, esticar o comprimento dos cabelos. A receita de beleza no terceiro milênio deve ser: muito tudo".
Para isso, proponho uma compreensão que reconheça os sinais do corpo como uma legítima expressão de um ser integrado em sua mente e corpo. Somos determinados por um inconsciente que escapa à nossa compreensão e ao nosso domínio. Expressamos nossas tramas vitais por meio de nossas emoções, do nosso corpo. É com o resgate e com a reconstrução biográfica que podemos recuperar o significado de nossas expressões psicossomáticas, como a obesidade.
A obesidade é a expressão de um paradoxo no qual, por um lado, há um acúmulo excessivo de energia e, por outro, uma inapropriada utilização dela. Ser obeso é ser grande e sentir-se frágil, é ocupar espaço e não saber como fazer, é ter sobra e viver o vazio, é querer ser e não ter com o quê. É ser exigido e ter uma força que escapa.
Ser uma criança obesa é estar submersa dentro dessa ambiguidade na qual a criança, por mais que coma, sente-se incapaz de enfrentar o mundo, sua pressão, suas exigências. Seus pais, supostos modelos de força, sentem-se fragilizados, tal é o nível de mutilação e desautorização a que eles são submetidos.
Geralmente concordamos quando se diz que uma das características de nossa época é sua lipofobia, sua obsessão pela magreza, sua rejeição quase maníaca da obesidade (Fischler, 1989). Precisamos estar atentos para não reproduzirmos automaticamente práticas mutiladoras por meio de discursos pseudocientíficos. Nossas crianças sinalizam que estamos fragilizados e impotentes.
Sugiro, dessa forma, que na obesidade há um circuito de famintos no qual se recomenda a restrição alimentar, ou seja, um incremento da má nutrição, pois ela, a obesidade, denuncia a má nutrição existencial. Estamos mal alimentados e temos fome. Precisamos inverter a polaridade, ao invés de fechar a boca, abrir as nossas bocas, as bocas das crianças obesas, de seus pais, dos adultos obesos, dos profissionais, para que possamos ser alimentados com nutrientes que efetivamente saciem a nossa fome.
Clarissa Silbiger Ollitta é psicóloga, psicanalista, psicossomatista, coordena o curso "A Trama da Obesidade" e o Programa de Estudos e Tratamento do Obeso no Instituto Sedes Sapientiae



http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/89/artigo290550-3.asp

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Trafico de pessoas

ACESSE ESTE LINK


TEXTO 1 ( Há um vídeo tb)

O site apresenta as informações principais sobre o tráfico de pessoas. Anote as principais ideias. Organize-as de modo lógico, fato, ou causa, ou consequência. Vá deixando num canto as propostas de intervenção ( que sejam as melhores, em qualidade e não, necessariamente, em quantidade).

http://www.infojovem.org.br/infopedia/descubra-e-aprenda/cultura-de-paz/trafico-de-seres-humanos/


Texto 2

O Senado aprovou na noite desta terça (13) uma proposta que altera o Código Penal, criando um tipo criminal para quem praticar o tráfico internacional e nacional de pessoas. O projeto tipifica o crime e estabelece punição de quatro a oito anos de prisão, além de multa para quem praticá-lo.
Réus primários e quem não integrar organizações criminosas podem ter a pena atenuada. Por outro lado, há agravantes, como retirar a vítima do país ou caso o crime seja cometido por funcionário público.
O texto trata ainda de atenção às vítimas. Estabelece, por exemplo, o pagamento de seguro-desemprego àquelas que tiverem sido submetidas a condição análoga à de escravo ou a exploração sexual.
Como forma de repressão, o projeto fala em cooperação entre órgãos do judiciário e de segurança. Também trata da criação de um banco de dados de criminosos e vítimas com objetivo de evitar novos casos.
A atual legislação apenas tipifica o tráfico de mulheres para exploração sexual e o tráfico de crianças. Já o novo projeto define o tráfico de pessoas como "agenciar, recrutar, transportar, comprar ou alojar pessoas" com uso de "ameaça, violência, coação fraude ou abuso".
O crime será caracterizado pela finalidade de "remover os órgãos, tecidos, ou parte do corpo das pessoas; submetê-la a trabalho em condições análogas à escravidão ou a qualquer tipo de servidão; adoção ilegal; e exploração sexual".
Antes, as condutas descritas acima poderiam ser enquadradas em outros crimes, como exploração sexual de menores de idade, estupro, sequestro e lesão corporal, entre outros.
O projeto é de autoria da Comissão do Tráfico Nacional e Internacional de Pessoas, que aconteceu no Senado em 2011. Já aprovado pelos deputados, o texto segue agora para a sanção do presidente, Michel Temer. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/09/1813100-senado-aprova-lei-que-criminaliza-o-trafico-de-pessoas-no-brasil.shtml


sexta-feira, 2 de setembro de 2016

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O POLITICAMENTE CORRETO


Procure pensar em situações concretas, em especial as que vc  vive no cotidiano. Em particular note a frase “não vejo o politicamente correto como o inimigo a ser esmagado. Prefiro descrevê-lo como o efeito colateral de um movimento civilizador, que foi a mobilização da sociedade para conter seus impulsos racistas e sexistas”



Normalmente, quando se fala em “politicamente correto”, refere-se a neutralização de uma linguagem ou discurso, evitando o uso de narrativas estereotipadas ou que possam fazer referências as diversas formas de discriminação existentes, como o racismo, o sexismo, a homofobia e etc.Em contrapartida, existe a ideia do politicamente incorreto. Nesta perspectiva, toda a precaução em evitar o uso de termos, por exemplo, que possam ofender determinadas camadas ou grupos sociais, é considerada estúpida e totalmente ignorada.
Os discursos politicamente incorretos são bastante comuns no humor, que exploram assuntos considerados tabu pela sociedade, desconsiderando princípios clássicos da moral, da ética e dos bons costumes.
Descubra mais sobre o significado da Moral.
Um indivíduo politicamente correto obedece os padrões da ética e da moral, convencionais em determinadas sociedades. É tido como um “cidadão exemplo”.
O uso do título "politicamente correto" também pode ser aplicado as ações das empresas que seguem padrões e exigências de cunho social e ecológico.
O cuidado com questões relacionadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, pode ser um exemplo de ação politicamente correta de algumas companhias e instituições, sejam públicas ou privadas. http://www.significados.com.br/politicamente-correto/
 HÉLIO SCHWARTSMAN

Juventude carrancuda 

Reportagem de Thais Bilenky publicada no domingo mostrou que os professores de cursinhos pré-vestibulares estão aposentando as piadinhas e comentários jocosos. O motivo é o clima PC (politicamente correto) que se instalou em parte da juventude. Hoje, tiradas que constituíam o feijão com arroz das aulas de cursinhos até alguns anos atrás geram indignação e até protestos por parte de alunos.

Há duas questões interessantes aqui. A primeira é prática. Cursinhos não haviam se tornado centros de produção de piadas por abrigar comediantes frustrados que, por algum motivo, abraçaram o magistério. Gozavam dessa condição porque chistes, além de manter desperto o interesse do estudante estafado, são um excelente auxiliar da memória.

Uma forma razoavelmente eficaz de reacessar um conteúdo cognitivo que já tenha sido aprendido é associá-lo a um trocadilho infame ou qualquer outra bobagem. Professores de pré-vestibulares, com graus variáveis de sucesso, tentavam explorar essa faceta de nossa arquitetura cerebral em favor dos alunos. É claro que ninguém vai morrer se ficar sem essa muleta mnemônica, mas receio que algo se perca com o banimento das piadas de cursinho.

A outra questão diz respeito ao próprio PC. Ao contrário de outros defensores do humor sem patrulhas, não vejo o politicamente correto como o inimigo a ser esmagado. Prefiro descrevê-lo como o efeito colateral de um movimento civilizador, que foi a mobilização da sociedade para conter seus impulsos racistas e sexistas. É claro que o fato de o PC ter uma origem bacana não elimina a necessidade de combater seus exageros.

Se há algo tão ruim quanto uma pilhéria de gosto duvidoso, é perder a capacidade de rir das incongruências do mundo. A diferença é que, enquanto a primeira tende a ser resolvida com o silêncio que reservamos às piadas sem graça, a falta de humor priva a vida de seus sabores.
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A TIRANIA DO POLITICAMENTE CORRETO

Muito provavelmente, a maioria de nós já foi enganada pelo politicamente correto. O termo é bonito, soa bem, parece polido, cheio de virtude, digno de ser aprendido e posto em prática. Com o tempo, no entanto, aprendemos que se trata de um embuste, mais uma daquelas novas expressões incluídas em nosso vocabulário para confundir e dar aparência de virtuoso àquilo que é vil, frívolo e indecoroso; roupagem fina para  grosseria, ou um lobo em pele de cordeiro. Trata-se, na verdade, da pior ditadura que pode vir a existir: aquela em que os súditos se encarregam de subverter e subjugar os seus próprios comuns ao jugo de um poder tirano.
Essa é a realidade da sociedade contemporânea. Quando conversamos, dialogamos ou expressamos nossas ideias, fazemos o tempo todo como que pisando em ovos. As pessoas tornaram-se extremamente sensíveis a qualquer objeção ou ideia que venham a lhes desagradar. As palavras devem ser cuidadosamente escolhidas, e é preciso ter certeza que ninguém se sentirá ofendido com o que será dito.
O politicamente correto é a versão real da novilíngua, idealizada pelo governo autoritário do livro de ficção “1984”, de George Orwell. A novilíngua não nascia naturalmente como expressão da cultura e acúmulo de conhecimento do povo, mas pela condensação e remoção dos vocábulos e de seus significados, a fim de limitar o pensamento. Simplesmente não pode estar no universo das pessoas algo que elas não têm palavras para dar sentido pleno. Controlando, portanto, a linguagem, os governantes controlavam os pensamentos e qualquer oposição que pudesse surgir de novas ideias. Logo, não era preciso se preocupar em proibir a menção de coisas, pessoas, ou situações. Bastava diminuir o escopo de construção racional sobre elas.
Da mesma maneira, o politicamente correto quer sugerir verbetes que nos imponham um pedido de autorização para falar sobre determinados assuntos, tornando imoral o uso de sinônimos diversos. Começa-se com coisas simples, aparentemente sem consequências importantes: o aleijado é deficiente físico; o cego é deficiente visual; o relacionamento homossexual é homoafetivo; o viciado é dependente químico, e assim por diante. Por mais que saibamos que existem maneiras discretas de se referir a determinadas situações, tornamo-nos mal educados e incorretos pelo simples fato de usar algumas palavras, que em si nada têm de ofensivas, são apenas descritivas.
No entanto, o mais grave ocorre quando da emissão de opiniões, de ideias ou da consciência. Expressar desacordo tornou-se discurso de ódio, e qualquer parecer contrário aos interesses de um determinado grupo vira “fobia”. Ou seja, opinião é criminalizada sem a necessidade de lei.
O uso constante do sufixo “fobia” é uma clara imposição da novílingua, a aceitação forçada do discurso oficial, bem como o de rotular oposição como discurso de ódio.  Na era do politicamente correto, todos nos tornamos, de alguma maneira, fóbicos e odiosos. Se alguém não concorda como o modo de pensar ou de agir de outra pessoa, logo é acusado de ter fobia e odiar aquele a quem se opõe.
Uma demonstração bem clara dessa prática se dá no caso do programa Mais Médicos. Se você argumenta que o Brasil tem meios alternativos de resolver os problemas da saúde pública com seus próprios médicos, e, por isso, é contra a vinda de profissionais cubanos, vão lhe chamar de xenofóbico. Não interessa que você levante bons argumentos racionais, e que você não tenha nada contra os cubanos pelo fato de serem de outra nacionalidade. Você se tornou xenofóbico. Ponto final.
Igualmente, se você é contra determinada ideologia ou partido político, qualquer coisa que vier a falar contra eles, será denunciado como discurso de ódio.
É interessante também notar que isso cria uma armadilha para todos os lados envolvidos no momento que se exterioriza discordância. Veja só um exemplo que gera discussões acaloradas: quando o cristão defende princípios conservadores acerca da sexualidade, ele é rotulado de homofóbico. Ironicamente, a acusação retorna, e os homossexuais são chamados de cristofóbicos. Trata-se, claramente, de um coletivismo generalizado, que não expressa a realidade de nenhum dos grupos.
Note bem, basta acrescentar o sufixo fobia e pronto! Está aí a defesa de tuas ideias. Faça-o de acordo com tua preferência: o importante é dificultar que a outra pessoa construa argumentos, mesmo que para isso seja necessário transformar o diálogo em ataque pessoal, fora do campo da razão. Se alguém tentar argumentar contra uma prática ou uma ideia, não deixe de gritar aos quatro cantos que aquele discurso é cheio de ódio, e aos olhos de muitos, você sairá vencedor.
Quando o debate e a expressão são limitados, em vigia constante de uns sobre os outros acerca do que é certo dizer ou não, sobre quais palavras podem ser usadas e acerca do que se é permitido pensar, o diálogo, o confronto de ideias e a dialética tornam-se impossíveis. Instaura-se, assim, uma ditadura disfarçada e alimentada pelos próprios escravizados.
O que resta é o silêncio: vivemos a tirania do politicamente correto. http://www.vistadireita.com.br/blog/a-tirania-do-politicamente-correto/

VEJA O PRIMEIRO VÍDEO. O SEGUNDO É OPCIONAL.